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Resenha Crítica do Filme: E se vivêssemos todos juntos?

  • Foto do escritor: Thuany Biazzola Cavalcante
    Thuany Biazzola Cavalcante
  • 17 de jun. de 2019
  • 5 min de leitura


O filme E se vivêssemos todos juntos? aborda o envelhecimento e algumas temáticas inerentes a essa fase da vida. A história se passa na cidade de Paris – França, onde vive os casais Jean e Annnie; Albert e Jeanne, mais o amigo viúvo Claude. São amigos há anos e compartilham juntos o processo de envelhecimento, assim como questões relacionadas a sexualidade, finitude, viver em comunidade, automedicação, rede de apoio social, perdas, doenças, entre outros aspectos.


A personagem Jeanne tem câncer terminal, no filme tem uma cena em que ela aparece jogando fora os resultados de exames, não conta a ninguém sobre o estágio de sua doença, que é bem grave. Kübler-Ross (2008), autora referência sobre Morte, revela que o assunto é algo muito difícil de lidar, abordou o processo de morrer em cinco estágios, no qual o paciente terminal vivencia ao se deparar com a finitude, a saber: a negação e isolamento, a raiva, a barganha, a depressão e posteriormente a aceitação. Foi possível observar que no primeiro momento a personagem se negou e não quis que soubessem, reagindo a notícia de acordo com o primeiro estágio, de negação e isolamento. Chega a dizer ao marido que os resultados chegaram e que está curada, no entanto, o médico se dirige a casa dela e conversa com o marido, explicando que a paciente se recusa a fazer tratamento, o marido respeita a decisão de sua esposa e não conversam sobre o assunto, negando a gravidade da situação.

O filme não mostra a personagem passando por todos os estágios, mas é possível notar que houve uma aceitação, que a personagem chegou no último estágio, visto que se preocupou com o marido, quem cuidaria dele e organizou tudo referente ao seu enterro, desde a escolha do caixão até como seria hospitaleira no seu momento final, demonstrando assim uma atitude mais tranquila perante seu fim (Kübler-Ross, 2008).

Ainda na temática relacionada a doença, o filme aborda doenças comuns a população idosa, a doença cardíaca pelo personagem Claude e o Alzheimer pelo personagem Albert. Barreto, Carreira e Marcon (2015) abordam que em se tratando da população idosa, as doenças crônicas não transmissíveis são o principal problema de saúde pública no mundo, o que gera doença, incapacidade e morte. Com os dois personagens do filme, é possível analisar um paralelo relacionado aos sintomas físicos, sentidos pelo personagem Claude, que é internado e passa por um período em que necessita de cuidados físicos e aos sintomas mentais, como no caso do Albert, que fisicamente está bem, mas precisa anotar na agenda acontecimentos importantes ao longo do dia para que não esqueça, faz a mesma pergunta em poucos segundos e mostra que não tem noção de tempo, quando se perde dos amigos, cai e diz ao profissional do resgate que está no ano de 1980.

O personagem Jean é apresentado no início do filme como um militante político, engajado e liderando uma manifestação. No entanto, mostra como a idade que tem o diminui perante a sociedade e as autoridades, pois os policiais acabam com a manifestação, e nessa cena simplesmente ele não é visto, chega a atirar uma garrafa no policial, mas o mesmo não o prende e no carro comenta com os amigos que o seguro não vai cobrir suas viagens, referindo-se a missões que realizava, demonstrando que ele é simplesmente tirado de cena, marginalizado por conta da idade. Garces (2012) realizou um estudo com 22 idosos, entre os resultados os idosos enfatizaram que não querem ser visto como coitadinhos, mas como atores sociais que possam ter participação e garantir os direitos da população idosa, contribuindo com suas experiências e conhecimento, a autora revela que eles são engajados e ativos, não se sentem velhos, mas atuantes em atividades que têm sentido e importância para eles.

O filme também apresenta a temática da sexualidade na velhice, como abordado pela personagem Jeanne, é um tema tabu, a sociedade vê como se os idosos fossem anjos e não fosse possível imaginar que fazem sexo ou sentem atração sexual. Almeida e Lourenço (2007) abordam que a sexualidade na velhice é vista perante muitos preconceitos, em que resta ao idoso o amor platônico ou a abstinência sexual, pois enxerga-se essa população como assexuada. No entanto, esses estereótipos prejudicam a expressão da sexualidade pelos idosos, pois os desencorajam e muitos aceitam essa visão. Os autores revelam que a sexualidade deve ser encarada como parte da vida, que tanto homens como mulheres podem continuar apreciando as relações sexuais.

O tema é muito bem abordado no filme, pois mostra diferentes significados para os personagens. O personagem Claude se mostra como sedutor, busca as prostitutas para se satisfazer, conta histórias de conquistas do passado, mas também mostra a necessidade de sentir-se potente, mesmo com risco de ter problemas de saúde pede receita de Viagra ao personagem Dirk, antropólogo que está realizando um estudo sobre a população idosa e passa a morar com eles. Jeanne já mostra a sexualidade como necessidade de sentir-se desejada, faz poses para ser fotografada por Claude e diz sonhar com ele e usar as lembranças dele em fantasias para buscar prazer através da masturbação. Almeida e Lourenço (2007) revelam que o sexo na velhice resulta em satisfação física, além de estimular sensações de aconchego, afeto, amor e carinho. Os autores abordam que para o idoso a noção de quantidade é trocada sadiamente pela noção de qualidade nas relações e a capacidade sexual é vista como fonte de poder, como pode ser observado no filme com o personagem Claude, em que sua sexualidade tinha relação com sua identidade.


Além disso, o filme também aborda os personagens vivendo juntos, compartilhando as dificuldades e momentos da velhice, após Claude ir para uma casa de repouso resolvem morar na casa de Jean e Annie. São todos amigos a muitos anos, durante o filme nota-se comportamentos que realizam em prol do desejo do outro, como a busca pelo cachorro que a filha de Albert entrega ao canil, por perceberem que o amigo não estava lidando bem com a perda. E na cena final em que todos se sensibilizam com a doença de Albert e vão à procura de Jeanne.

Holz (2018) em seu estudo sobre comunidade intencional concluiu que a moradia interfere na construção de autonomia do idoso, nas possibilidades de suporte, assim como desenvolve um senso de comunidade e pertencimento, em que envolve o estabelecimento de relações sociais e de apoio.


Em vista de todos os pontos analisados, o filme traz várias temáticas acerca do envelhecimento e faz refletir sobre como o processo de envelhecimento é vivido de forma subjetiva e de acordo com a vivência e experiência de cada um, que apesar das dificuldades e perdas inerentes a essa fase da vida, é possível buscar por um envelhecimento saudável e que ter uma rede de apoio social é essencial para isso.

Referências

Almeida, T. & Lourenço, M. L. (2007). Envelhecimento, amor e sexualidade: utopia ou realidade? Rev. Bras. Geriatr. Gerontol., 10 (1), 101-114.

Barreto, M. S., Carreira, L., & Marcon, S. S. (2015). Envelhecimento populacional e doenças crônicas: Reflexões sobre os desafios para o Sistema de Saúde Pública. Revista Kairós Gerontologia, 18(1), 325-339.

Garces, S. B. B. (2012). Movimentação dos Atores Idosos na esfera pública e na sociedade civil: sociabilidades presentes no território dos idosos. Tese de Doutorado, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul.

Holz, L. M. (2018). Comunidades Intencionais: Uma proposta de Qualidade de Vida para a Maturidade. Dissertação de Mestrado, Universidade do Vale do Rio dos Sinos, Rio Grande do Sul.

Kübler-Ross, E. (2008). Sobre a morte e o morrer: O que os doentes terminais tem para ensinar aos médicos, enfermeiras, religiosos e aos próprios parentes. (P. Menezes, Trad.) (9a ed.). São Paulo: Editora WMF Martins Fontes.


 
 
 

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